Análise: "Metade"
- Oswaldo Montenegro
- 10 de abr. de 2016
- 3 min de leitura
"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca pois metade de mim é o que eu grito mas a outra metade é silêncio. Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade. Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento porque metade de mim é o que ouço mas a outra metade é o que calo Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada porque metade de mim é o que penso e a outra metade um vulcão. Que o medo da solidão se afaste que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que me lembro ter dado na infância porque metade de mim é a lembrança do que fui e a outra metade não sei Que não seja preciso mais que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito e que o teu silêncio me fale cada vez mais porque metade de mim é abrigo mas a outra metade é cansaço Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer porque metade de mim é platéia e a outra metade é a canção E que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor e a outra metade também."
O poema de Oswaldo Montenegro é puramente romântico. Não fala somente dos sentimentos, amor como um todo mas três reflexões acerca dos desafios internos que convivemos todos os dias. Trata do sentimento como algo que seja puro, verdadeiro e continuo, algo que não exige nada em troca,apenas o amor reciproco. O Romântico é aquela pessoa que também ama tudo que faz. O eu poético evidência a importância de superar os medos sejam eles de quais quer natureza. É preciso insistir aquilo que se tem fé e não deixar que os obstáculos da vida diminua a importância daquilo que se acredita. Existem, dentro de cada um, duas metades: o "sim" e o "não. O "sim" refere à essência do ser, nas reais vontades, aos reais desafios e nas reais atitudes, o "não" se refere a tudo aquilo que não faz parte da verdade do ser. Nos momentos da vida, devemos escolher a metade que agirá em nós. Somos um único indivíduo, mas cheios de sentimentos opostos: ora nos colocamos e ouvimos, ora temos a louca vontade de gritar, ora parecemos tranquilos, mas na verdade em erupção. É nessa confusão que se tenta explicar os sentimentos mais difíceis de se expressar,pois ao mesmo tempo que se tem a vontade, a mesma deixa de existir.
Metáfora:
Somos uma lâmpada: ora escolhemos brilhar como o sol e iluminar tudo ao nosso redor, ora nos apagamos e deixamos todo o vazio e escuridão reinar.
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